O diabetes costuma causar uma doença nos olhos chamada retinopatia diabética, que quando não tratada pode causar cegueira bilateral e irreversível. No Brasil a retinopatia diabética é uma das principais causas de cegueira na população. Infelizmente, o diabético muitas vezes vai ao oftalmologista com a doença em grau avançado terminando cego, que pode ser evitado se o tratamento for instituído antes. A grande dificuldade é que a doença pode não causar nenhum sintoma até estar muito avançada e o paciente só a percebe quando já tem um dano visual grave, e muitas vezes irreversível.
O paciente diabético com mais de 5 anos de doença, mas, principalmente, com mais de 10 anos, o exame oftalmológico do fundo de olho com dilatação pupilar tem que ser realizado rigorosamente todo ano. Sendo que na presença de hipertensão arterial, doença renal, anemia, fumo e gravidez, o cuidado é redobrado, já que esses fatores podem piorar muito o curso da doença.
O controle da taxa do açúcar no sangue (glicemia) ajuda de maneira importante, mas pode não evitar a evolução da doença, que muitas vezes é silenciosa, então o paciente não deve se deixar enganar pelo fato do diabetes achar que estar sempre controlado, pois as alterações na retina podem tornar-se graves mesmo com o diabetes supostamente controlado, principalmente após 5 anos de doença, mas claro que o bom controle é essencial para ajudar a combater a evolução da doença.
A Retinopatia Diabética, comumente, incapacita para o trabalho pessoas na faixa etária dos 30 aos 70 anos. É a principal causa de cegueira irreversível nesta faixa etária, porém se realizados exames preventivos e tratamento com laser nos casos indicados, poderá ser evitado os estados avançados da doença que podem levar à cegueira em muitos destes pacientes. Se a doença for detectada precocemente e com tratamento adequado, os riscos da cegueira podem ser reduzidos em mais de 80%.
SINTOMAS E ACHADOS CLÍNICOS
Na retinopatia diabética os sintomas variam bastante com o estágio da doença (proliferativa ou não proliferativa). Na fase inicial, a retinopatia diabética é assintomática (sem sintomas). Por este motivo, o paciente com diabetes não deve esperar pelo aparecimento de sintomas visuais, devendo realizar exame de fundo ocular, pelo menos uma vez por ano. A visão turva é um dos sintomas de retinopatia diabética mais frequentes e ocorre, habitualmente, na fase proliferativa da doença, ou quando a mácula possui edema macular ou quando os neovasos se rompem e sangram para o vítreo. A hemorragia pode reaparecer e causar visão muito turva.
A retinopatia diabética não proliferativa é o estágio menos avançada da doença, podendo-se dentro desta também identificar diferentes graus de evolução da retinopatia. Na retinopatia diabética incipiente, como o próprio nome indica, a doença encontra-se numa fase inicial e não acarreta alterações visuais. No entanto, a perda de visão pode acontecer, afetando ambos os olhos, se ocorrer a evolução da retinopatia diabética, principalmente se atingir a área central da retina. Nesta fase da retinopatia diabética são visíveis microaneurismas (pequenas dilatações vasculares) na retina posterior. Na retinopatia não proliferativa moderada, à medida que a doença vai progredindo são visíveis para além dos microaneurismas, hemorragias, manchas algodonosas e exsudados duros na retina posterior. Na retinopatia não proliferativa severa ou grave para além dos sinais da retinopatia moderada, são também visíveis vasos sanguíneos obstruídos, privando diversas áreas da retina do suprimento sanguíneo (isquemia). Estas áreas da retina isquêmicas vão estimular a formação de novos vasos sanguíneos.
A retinopatia diabética proliferativa é a fase mais avançada da doença, sendo caracterizada pelo aparecimento de novos vasos na superfície da retina e da papila. Estes vasos sanguíneos são frágeis e constituídos apenas por endotélio. Crescem ao longo da retina e em direção ao vítreo sem causar qualquer sintomatologia ou perda de visão, no entanto, como têm finas e frágeis paredes podem romper e liberar sangue na cavidade vítrea, provocando perda de visão severa e até mesmo cegueira. A retinopatia diabética proliferativa, se não for tratada atempadamente, pode causar perda severa da visão. Cerca de metade das pessoas com retinopatia proliferativa também possui edema macular. O EDEMA MACULAR pode ocorrer em qualquer estágio da retinopatia diabética, constituindo a principal causa de perda visual nos diabéticos, e é causado por acumulação de líquido na zona mais importante da retina, a mácula, área responsável pela nossa visão central. Entre as possíveis complicações oftalmológicas da diabetes, aquela que gera maior preocupação e risco de cegueira é mesmo o edema macular diabético. É uma complicação grave que se não for diagnosticada e tratada de forma antecipada e adequada, pode levar a perdas de visão significativas e no limite conduzir à cegueira. A hiperglicemia, promove o aumento da permeabilidade dos vasos sanguíneos, que leva ao acúmulo de líquido e depósitos de proteínas na retina e/ou mácula levando ao edema macular. O fator de crescimento vascular (VEGF) é uma proteína que provoca a permeabilidade vascular que vai enfraquecendo as junções entre as células das paredes dos vasos sanguíneos. À medida que as junções enfraquecem, os líquidos dentro dos vasos sanguíneos vazam para o tecido retiniano incluindo a mácula, formando o edema macular diabético.
DIAGNÓSTICO
A retinopatia diabética e o edema macular são detectados durante o exame oftalmológico de rotina. O teste de acuidade visual serve para averiguar a visão do doente. O exame de fundo ocular (MAPEAMENTO DE RETINA), com dilatação (gotas midriáticas), permite ao oftalmologista uma melhor observação do polo posterior e da periferia da retina. Dentre os exames diagnósticos utilizados nos estudo das doenças da retina, destaca-se: a RETINOGRAFIA (importante na documentação fotográfica das lesões retinianas e glaucoma) e a ANGIOGRAFIA FLUORESCEÍNICA (no estudo da circulação retina), a ULTRA-SONOGRAFIA OCULAR (fundamental nos olhos com catarata ou hemorragias extensas), e a TOMOGRAFIA DE COERÊNCIA ÓPTICA, conhecida como OCT, representa um dos mais importantes avanços no diagnóstico e tratamento de doenças oculares dos últimos anos, principalmente na avaliação e quantificação do edema macular diabético.O mais importante que temos que ressaltar, é que o Exame de fundo de olho deve ser realizado pelo menos 1x por ano, podendo ser mais frequente dependendo da gravidade. No Diabetes tipo 2 a hora de examinar o fundo do olho é desde o diagnóstico do diabetes, já no diabetes tipo 1, o momento de início dos exames de fundo olho é a partir de 5 anos de doença.
TRATAMENTO
O TRATAMENTO com LASER da retina é sem dúvida o tratamento de escolha para uma série de doenças retinianas mais avançadas. A fotocoagulação da retina com raio laser é um procedimento ambulatorial, rápido e, geralmente, indolor, onde o paciente recebe como anestesia apenas algumas gotas de colírio anestésico. Dependendo do caso, as aplicações de laser devem ser repetidas por várias sessões em intervalos de semanas ou meses, por se tratar de uma doença crônica, progressiva e ainda incurável, o que impõe cuidados durante toda a vida.
A última grande e revolucionária modalidade de tratamento é a INJEÇÃO INTRA-OCULAR DE DROGAS ANTI-ANGIOGÊNICAS, que tratam efetivamente o edema macular diabético, maior causa de visão associada a retinopatia diabética, e também reduzem drasticamente formações neovasculares retinianas que são, constantemente, causadoras de hemorragias retinianas extensas e posterior cegueira. E por fim, destaca-se o importante papel da CIRURGIA VÍTREORRETINIANA, também conhecida por VITRECTOMIA POSTERIOR, que é realizada para correção de casos de complicações mais graves, com risco alto de perda irreversível de visão, tais como no descolamento de retina e hemorragia vítrea.
Dr. Rafael Andrade